Pablo Neruda - Confesso que Vivi O ópio
Tinha ruas inteiras dedicadas ao ópio... Sobre estrados baixos estendiam-se os fumadores... Eram os verdadeiros lugares religiosos da India... Não tinham nenhum luxo, nem tapetes, nem coxins de seda... Tudo eram madeiras sem pintar, cachimbos de bambu e almofadas de louça chinesa... Emanava um ar de decoro e austeridade que não existia nos templos... Os homens adormecidos não faziam movimento nem ruído... Fumei um cachimbo... Não era nada demais... Era só um fumo caliginoso, fraco e leitoso... Fumei quatro cachimbos e fiquei cinco dias doente, com náuseas que me vinham da espinha dorsal e que me desciam do cérebro... E um ódio ao sol e à existência... O castigo do ópio... Mas aquilo não podia ser tudo... Tanto se tinha dito, tanto se tinha escrito, tanto se tinha metido nas maletinhas e nas maletas, tratando de esconder das aduanas o veneno, o famoso veneno sagrado. Tinha que vencer o asco... Devia conhecer o ópio, saber do ópio, para dar meu testemunho... Fumei muitos cachimbos a...