O 25 de Maio e o Nove de Julho na América Espanhola
Desde antes do descobrimento as Américas já haviam sido
rateadas entre Portugal e Espanha, em 1494 o Tratado de Madri determinou que a 370
léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde as terras seriam Espanholas e aquém
Portuguesas.
Muito rolou até que o Tratado de
Madri em 1750 determinasse que as terras pertencessem a quem de fato as
ocupassem, princípios de uti possidetis, isto é, uma solução diplomática que
conferia a um Estado o direito de apropriar-se de um novo território com base
na ocupação, na posse efetiva da área.
Apesar de assim delimitadas as terras
o interesse da Espanha pelo Vice Reino do Rio do Prata não era grande, as
terras eram distantes e não possuíam metais preciosos.
Assim os colonos espanhóis sempre
tiveram grande autonomia sem serem molestados pela Coroa.
Os portugueses, os Jesuítas, o
contrabando de prata e insumos para a prata pela bacia do Prata alertaram os
espanhóis para a importância da região.
Vamos brincar um pouco com a
história da prata, a história das minas de Potosí:
Existem duas versões, a que parece
mais factível conta que as minas de prata foram descobertas
casualmente em uma noite de 1545, por um pastor quíchua chamado Diego Huallpa,
que se perdeu quando regressava com seu rebanho de lhamas. Decidiu, então,
acampar no pé do Cerro Rico e fez uma grande fogueira para abrigar-se do frio.
Quando acordou pela manhã, notou que entre as brasas brilhavam pedaços de
prata, fundidos e derretidos pelo calor do fogo. O local era aparentemente tão
rico em prata que ela se encontrava à mostra no terreno.
Segundo
outra versão, os incas já conheciam a existência de prata no local, mas quando o
imperador inca tentou começar sua exploração, o monte o teria expulsado
mediante uma estrondosa explosão (de onde deriva o nome do lugar,
"¡P'utuqsi!"), proibindo-lhe de extrair a prata, que estava reservada
"para os que viriam depois". Os historiadores veem, nesta variante,
uma deliberada influência dos espanhóis na lenda para legitimar seus trabalhos
no local.
Enfim para
fugir dos controles alfandegários da época a prata era retirada pelo Rio do
Prata e também por aí eram mandados escravos e mantimentos do Rio de Janeiro
fechando o ciclo.
Voltando ao
assunto os espanhóis tendo ficado mais “espertos” com o que estava acontecendo
resolveram dar mais atenção ao extremo sul da América, fundaram então ali um
vice-reino em 1776 que incluia parte atual da Bolívia e os territórios que hoje
correspondem ao Paraguai, Uruguai e Argentina.
Buenos
Aires foi escolhida como capital deste vice-reino, a histórica autonomia das
provincias se impunha como realidade politica e economica na região, os
portenhos, habitantes de Buenos Aires, ricos comerciantes criollos, tentavam
centralizar a administração enquanto que no Uruguai, Paraguai, Alto Peru
(Bolívia) e interior da Argentina se recusavam cumprir as ordens.
Na Europa a
Espanha tentava reatar aliança com a França que lógicamente passou ter a
Inglaterra como inimiga que por sua vez passou estimular o contrabando com as
colonias espanholas na América apoiando a independência dos
hispanos-americanos.
Ainda no contexto dessas relações conflituosas entre Espanha e Inglaterra,
em abril de 1806 uma expedição militar inglesa (não oficial) partiu do Cabo da
Boa Esperança (África do Sul) e chegou a tomar Buenos Aires. Os colonos, sem
contar com o auxílio da Espanha - que estava envolvida em guerras europeias -,
tiveram de se organizar por conta própria. De Montevidéu (Uruguai) partiram
tropas, lideradas por Santiago de Liniers, que conseguiram expulsar os
invasores.
Uma nova tentativa de conquista ocorreu no ano seguinte, e os ingleses
chegaram mesmo a tomar Montevidéu, mas quando partiram para a conquista de
Buenos Aires foram novamente vencidos por milícias locais.
Esses episódios foram muito importantes para os colonos, pois:
·
ficou claro que a região não precisava do auxílio metropolitano;
·
as milícias de voluntários acabaram por se tornar tropas locais,
independentes e contrárias à Espanha;
·
Santiago de Liniers foi escolhido, em 1807, como novo vice-rei, sem que
a Espanha o tivesse indicado.
Como vemos, as tentativas inglesas de controle da região somaram-se à
autonomia das províncias, fazendo com que o espírito independentista crescesse
entre os colonos do Rio da Prata.
Tal situação se agravou ainda mais quando Napoleão Bonaparte tomou o trono espanhol
(1808): a crise se instalou no Vice-Reino do Prata, pois cada província passou
a buscar seu próprio caminho rumo à independência, enquanto Buenos Aires
tentava manter sua soberania.
E mesmo depois de 1808, quando a Espanha rompeu com a França (pois
Napoleão aprisionara o rei Fernando 7º), os ingleses mantiveram uma diplomacia
dúbia: publicamente, eram aliados das Juntas Governativas na Espanha, mas, ao
mesmo tempo, de maneira extraoficial, continuavam apoiando os rebeldes nas
colônias.
Rebeliões
Em 25 de maio de 1810 ocorreu a Revolução de Maio: uma Junta de Governo
foi formada em Buenos Aires, com o apoio das milícias de voluntários das
guerras contra os ingleses.
Essa Junta jurou fidelidade a Fernando 7º, mas se recusava a cumprir as
ordens vindas da Junta de Sevilha (o governo provisório da Espanha), o que, na
prática, significava a declaração de independência.
Contudo, como a principal reivindicação da junta portenha era o direito
ao controle de todas as regiões do vice-reino, as províncias, reafirmando sua
autonomia, se revoltaram.
Montevidéu se declarou a favor da Junta de Sevilha, a fim de rivalizar
com a Junta de Buenos Aires. O Paraguai e o Alto Peru se mantiveram à parte,
não enviando representantes à Junta de Buenos Aires.
Em 1811, o Paraguai de separou definitivamente de Buenos Aires,
declarando sua independência, sob a liderança do ditador José Gaspar Rodrigues
Francia.
No Uruguai, as lutas foram intensas, já que portugueses e brasileiros
desejavam anexar a região. Depois de longa guerra, o Uruguai foi incorporado ao
Império Português (1821), transformando-se na Província Cisplatina.
No interior da atual Argentina, várias regiões se rebelaram contra a
Junta de Buenos Aires. Foram submetidas pelas tropas portenhas, mas continuaram
lutando pela autonomia local.
Somente em 1816, com a definitiva proclamação de independência, surgiu o
país denominado Províncias Unidas do Rio da Prata, que tinha como princípio o
federalismo. Mais uma vez, os criollos portenhos
tiveram que ceder.
Diante dessa realidade, restava a Buenos Aires a luta pela manutenção do
controle sobre a Bolívia e suas ricas minas de prata (Potosí). Por isso, várias
tropas foram enviadas para a região, a fim de anexá-la. Mas as dificuldades
geográficas e logísticas - principalmente no que se refere a ultrapassar a
Cordilheira dos Andes - e a presença maciça de espanhóis na colônia vizinha
(Peru), transformou tal empreitada em algo quase impossível.
Somente a genialidade de San
Martín, militar argentino, conseguiu superar tais problemas. Mas quando chegou
à Bolívia, as lutas locais já eram tão intensas, que ele não conseguiu manter a
região sob o controle de Buenos Aires.
Dessa forma, o centralismo defendido pelos portenhos foi sendo
dilapidado e o Vice-Reino do Prata se desintegrou. Somente em 1863 Buenos Aires
conseguiu se tornar a capital das províncias da atual Argentina.
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