A neurose brasileira no etanol


Sabine Righetti
 
“O Brasil é neurótico. Está perdendo a mão de novo”, disse-me um pesquisador que trabalha com etanol, durante o primeiro congresso internacional sobre bicombustíveis que acontece desde domingo em Campos do Jordão.

O motivo da neurose: desenvolvemos o motor flex, fizemos os consumidores voltarem a usar etanol, aprendemos a produzir esse etanol do bagaço da cana (o que é chamado de etanol de “2ª geração”), mas agora estamos sendo atropelados por outros países, como os EUA, que já produzem quase o dobro de etanol por ano em relação a nós.

Como os EUA fazem isso? “Com muito dinheiro para pesquisa”, disse Sharlene Weatherwax, do DOE (Departamento de Energia dos EUA). Isso incluiu financiamento pesado a cerca de 300 institutos de pesquisa americanos. “Convidamos pessoas de todo o mundo para fazer pesquisa com a gente”, explica.

O que precisa ser colocado no divã é que há cerca de três anos a expectativa do mercado era que a gente passasse a exportar etanol para os americanos. Mas aconteceu quase o contrário.

Nossa produção está caindo, o número de plantas novas está se reduzindo a cada ano desde 2008 e os projetos sobre biotecnologia e cana estão cada vez mais escassos. Em outras palavras: estamos perdendo a mão.

O risco disso é nos tornarmos, de novo, um vendedor de commodities. Se o preço do açúcar sobe no mercado mundial, passamos a vender açúcar. E os investimentos na tecnologia de etanol são repentinamente freados.

Os cientistas estão nervosos porque já deveríamos entrar na 3ª geração da produção de etanol, mas ainda estamos patinando na 2ª. Há pouca inovação no setor, o marco regulatório não está claro e há poucas políticas públicas que tratem da produção e consumo do etanol, eles alegam.

Muitos dos cientistas que vieram a Campos do Jordão para participar do evento da Fapesp queriam discutir com o ministro Aloizio Mercadante (MCTI) sobre as políticas para o setor. Há mais de 500 pessoas por aqui. Mas Mercadante -- que carrega a bandeira do Pré-Sal -- não veio ao evento.

Seria esse mais um sinal de que as coisas não estão indo bem com o etanol brasileiro?



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