De bicicleta ou helicóptero, executivos fazem de tudo para fugir do trânsito

Para driblar o tráfego de São Paulo, empresas incentivam trabalho em casa e fazem videoconferências com executivos dentro da cidade


Fernando Scheller / O Estado de S. Paulo
Ligar o rádio do carro e descobrir que São Paulo tem mais de 200 quilômetros de congestionamento não é algo que surpreenda os motoristas por volta das seis da tarde. Empresários e executivos de alto escalão, além de tempo, perdem dinheiro quando ficam parados no trânsito. Por isso, buscar alternativas ao engarrafamento virou tarefa prioritária não só para os profissionais, mas também para as empresas.
As soluções para reduzir o tempo de deslocamento dos "engravatados" vão do helicóptero à bicicleta, passando por serviços de táxi e pela opção por horários alternativos. Segundo Luís Antonio Lindau, diretor da organização não governamental Embarq Brasil, tanta dor de cabeça no trânsito é reflexo de um planejamento que prioriza o carro individual – a frota brasileira de veículos subiu de 29,5 milhões, em 2000, para 72 milhões, este ano. "Sabe-se que uma faixa dedicada aos ônibus transporta, em média, dez vezes mais pessoas do que um automóvel", diz Lindau.
Uma das saídas de gigantes como a Dell e a Unilever para reduzir tempo – e custos – no trânsito foi a adoção do trabalho em casa, ou home office. Em uma semana típica, a gerente de marketing da divisão Dell SonicWall para a América Latina, Manoela Vieira, só vai ao escritório para uma reunião semanal de duas horas às segundas-feiras, entre 10h e 12h. O restante das tarefas ela faz de casa, enquanto supervisiona o dever de casa e as brincadeiras das três filhas.
A executiva, que mora em Cotia, na Grande São Paulo, atua inteiramente em home office há sete anos – este já é o terceiro emprego de Manoela dentro do esquema remoto. Ela diz que, ao contrário da maioria das mães que trabalham fora, não precisa sentir culpa por estar longe da família. "Não trocaria essa vida nem para ganhar o dobro do meu salário atual."
Na Unilever, é comum que os funcionários passem um ou dois dias por semana sem pisar no escritório. Nem em caso de reuniões de última hora o esquema é abandonado – o laptop fornecido pela empresa traz embutida uma ferramenta de comunicação remota com imagem. "Muitas vezes, conectamos gente do escritório, na Vila Olímpia, com pessoas que trabalham de casa, em Higienópolis, Santana ou no Morumbi", conta Bruno Francisco, diretor de marketing da área de desodorantes da empresa.
Além de trabalhar pelo menos um dia e meio por semana de casa, Francisco diz que está em busca de formas alternativas de chegar ao escritório. "No dia do meu rodízio, tenho ido de metrô até a Faria Lima e caminhado para o escritório pelo canteiro do meio da avenida. Num bom ritmo, chego em 25 minutos", diz o executivo. "Agora, estou pensando em comprar uma bicicleta dobrável, para pedalar até o trabalho."
É uma decisão que o empresário Alexandre Zylberstajn já tomou. Sócio da Sold Leilões, ele aderiu à bicicleta – só que elétrica. Duas vezes por semana, deixa o carro em casa e vai "pedalando" até a empresa. "Nos dias de trânsito ruim, levo até 50 minutos para percorrer dos Jardins a Higienópolis", diz o empresário. De bicicleta, o tempo cai para 20 minutos. "Neste período de fim do ano, com os enfeites de Natal na Avenida Paulista, meu trajeto de carro fica ainda mais complicado", diz Zylberstajn.
Ponta do lápis. Há quem diga que, fazendo bem as contas, é possível até economizar livrando-se do carro. Foi o que fez Giuliano De Marchi, diretor da gestora de recursos Alliance Bernstein no Brasil. Ele mora nos Jardins e trabalha no coração da Vila Olímpia, a seis quilômetros de distância. Abandonou o automóvel próprio para o dia a dia e agora vai todos os dias trabalhar de táxi. O gasto mensal com o serviço executivo é de R$ 1,2 mil.
Como mora relativamente perto do trabalho, o executivo garante que a opção faz sentido econômico. "No meu caso, decidi pelo táxi após levar em conta todos os custos de um carro, como seguro, IPVA e combustível, além de extras como lavagem e estacionamento", explica. Caso decidisse comprar um carro de luxo de R$ 100 mil, argumenta Marchi, a desvalorização do veículo acabaria corroendo o patrimônio. Aplicando o dinheiro de forma conservadora, em renda fixa, diz ele, o crescimento dessa "poupança" está garantido.
Um motorista busca Marchi em casa todos os dias e o leva de volta, sempre por volta das 18h. "Ganho os dez minutos que levaria para tirar o carro da garagem do edifício da empresa", diz o executivo. No entanto, a principal vantagem da mudança é a redução do estresse: "Todos ficamos agressivos na direção. No táxi, além de não ter de dirigir, posso usar o tempo para trabalhar."
Quem não pode se livrar totalmente do carro tenta encaixar atividades pessoais no fim do expediente. O gerente dos negócios de América Latina do Itaú Unibanco, Luciano Wajchenberg, mora a 23 quilômetros da sede do banco, no bairro do Jabaquara. Por isso, passa pelo menos uma hora na academia dentro da sede da empresa antes de ir para casa. Assim, o trajeto de volta cai de 60 para 30 minutos.
A mudança de hábito teve impacto positivo no convívio de Wajchenberg com a família. "Antes, chegava em casa após uma hora no trânsito e ainda tentava ir à academia. Agora, tenho tempo de jantar e ainda consigo ver um pouco os meus filhos antes de eles irem dormir."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

10 tipos mais conhecidos de tortura utilizados durante o Regime Militar

Boa Sorte, Merda ou Quebre a Perna?

Barquinho pop-pop