E fez-se a República

Carlos Eduardo Entini

O novo regime foi instalado sem conflitos e resistência; do outro lado, o povo procurava notícias

Foi uma ruptura, mas pareceu mais uma transição entre governos. O golpe contra a monarquia, encabeçado pelo marechal Deodoro da Fonseca, que estabeleceu o regime republicano no País, aconteceu sem distúrbios, participação popular e violência. A única vítima foi o ministro da Guerra, o barão de Ladário, que atirou contra Deodoro da Fonseca assim que recebeu ordem de prisão. Ladário não acertou nenhum tiro, mas os militares que acompanhavam o marechal o atingiram. 



Deposto, Pedro II e família partiram para o exílio. Mas não foram de mão abanando. O Governo Provisório, em seu segundo decreto do Brasil republicano, destinou cinco mil contos do tesouro nacional"para o Estabelecimento de Pedro de Alcantara e família no estrangeiro", relatou o Estado na edição do dia 20.

Aos poucos as Províncias foram aderindo ao novo regime e se juntado à recém-criada República dos Estados Unidos do Brazil. 

Do outro lado, os novos cidadãos procuravam ansiosamente pelas novidades que chegavam aos poucos, e em partes. Nos dias que seguiram à instalação do novo regime, a procura por informações foi tanta que acabou o papel no mercado. O povo se aglomerava em frente às sedes dos jornais para ler os boletins colados nas portas produzidos assim que chegavam os telegramas. 

O Estadão Acervo separou algumas notícias sobre os bastidores da Proclamação da República e o entusiasmo que tomou conta da população.

Em São Paulo, a instalação do governo provisório começou às 11 horas da manhã do dia 16. Conforme o relato do Estado, "o governo provisório do estado de S. Paulo seguiu do Clube Republicano para o paço da camara municipal, sendo acompanhado por grande massa de povo. Iam na frente os cidadãos Rangel Pestana e Prudente de Moraes". "Quando entramos no recinto da camara", continuou o repórter, "notamos vasio o lugar que era antes ocupado pelo retrato de Pedro II".

A primeira notícia sobre o monarca deposto que o leitor do Estado teve foi sobre a partida do imperador e sua família, na edição do dia 18. O barco 'Alagoas' partiu com os membros da monarquia brasileira às 3h15.


O golpe militar que derrubou a monarquia e instalou o regime republicano é conhecido pela passividade como foi aceito pelas instituições, políticos e pelo povo. Mas teve um momento de tensão. Foi quando o marechal Deodoro da Fonseca se dirigiu ao Ministério da Guerra para pedir a rendição de militares que resistiam, entre eles o barão de Ladário, ministro da Marinha. O barão reagiu a tiros à ordem de prisão ordenada por Deodoro. Seus disparos não atingiram ninguém. Os tenentes que acompanhavam Deodoro responderam e feriram o barão, que ficou para a história como o único ferido na troca do regime.

A notícia da instalação do Governo Provisório da República Federativa dos Estados Unidos do Brasil, no Rio de Janeiro, foi publicada na edição do dia 19. A declaração oficial da República foi dada nos salões da Câmara Municipal pelo vereador José do Patrocínio. 



A busca por notícias era grande. Além das edições diárias, os jornais colavam em suas portas boletins com os telegramas recém chegados.O papel chegou a sumir do mercado. 

O primeiro decreto do Governo Provisório foi a instituição da República. O segundo, foi a concessão de cinco mil contos para o exílio da família real. 



As únicas palavras do Pedro II, publicadas logo depois da queda da monarquia, vieram pelo tenente-coronel, Malet. Segundo ele, Dom Pedro II se declarou cansado depois de 50 anos de reinado. 




O efeito 'República' causou boa repercussão no mercado internacional. Os títulos da dívida brasileira subiram logo depois do anúncio do novo regime.



As adesões à República vieram de todos os lados. Até dos mais próximos. Como do almirante Tamandaré, amigo de Pedro II, com quem assistiu a rendição de Uruguaiana em 1867, durante a Guerra do Paraguai. 



Outro decreto republicano encarregou o tesouro nacional a continuar o pagamento de pensões que antes eram pagas pelo próprio imperador. "Seria crueldade envolver na quéda da monarchia o infortunio de tantos desvalidos", diz o texto. 



Parte dos vereadores da Bahia e o presidente da província, resistiu ao novo regime. Em carta enviada a Deodoro da Fonseca, Almeida Couto, escreveu: "... em nome do povo bahiano reunido espontaneamente e em grande massa em palacio, representadas em diversas classes sociais sem distincção de partidos partidos (...) declaro respeitar e manter a constituição e as leis do imperio". 



Durante os primeiros dias de uma República sem símbolos, o jornal publicou vários hinos enviados pelos cidadãos como o da imagem à direita, publicado no dia 22. Clique nela para ler a íntegra. 



O ímpeto de apagar o passado também foi frequente nos primeiros dias de República. Hyppolito da Silva, em discurso na Câmara de São Paulo, pediu a troca de nomes das ruas que se referiam ao antigo regime. E conseguiu, por exemplo, a antiga rua do Imperador, se tornou Marechal Deodoro. 



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