La Nana



Este filme chileno (de um diretor que tinha feito antes apenas La Vida que Me Mata, 2007) foi muito bem recebido nos EUA - muito fácil de gostar e se identificar, principalmente pelos brasileiros. Trata-se de uma família de classe média alta: pai, mãe, vários filhos de idade diferentes e uma empregada, Raquel, que está na casa há muitos anos.

Embora seja bem tratada pela família (o filme começa com eles fazendo uma festa de aniversário surpresa, com bolo e tudo), é muito infeliz. Não sabe lidar com sua solidão, suas incapacidades, suas manias. Muito ciumenta, briga com as ajudantes que, por acaso, chamem para ajudá-la. E realiza pequenas maldades, que aos poucos vão se tornando cada vez maiores. Até que começa também a ter desmaios, sinal de que algo está errado.

Assim como Precious, fez grande sucesso em Sundance, onde foi premiado: melhor atriz para Catalina Saavedra e grande prêmio do júri. Teve um momento no filme quando temi que ele fosse enveredar por outros sobre empregados, à moda de Jean Genet, quando tudo ia se desafogar numa tragédia.

Mas ele muda de rumo com a chegada de uma moça desinibida e alto astral, que vem ajudá-la, e a ajuda a descobrir um mundo novo e novas sensações. É uma solução positiva e eficiente, que ajuda o filme modesto (feito com câmera na mão, quase que numa única locação), mas realizado com entusiasmo e verdade.

Pense na seguinte situação: sua empregada doméstica, que trabalha em sua casa há 20 anos, começa a dar sinais de desleixo. Ela não obedece mais suas ordens, detesta um membro da família, dedura ações inocentes de outros e inferniza a vida de novos empregados da casa. O que fazer? Demitir? Agora pense o contrário: você é empregada doméstica de uma casa por 20 anos. Você até é tratada com carinho, mas tem que lavar a louça da festinha que seus chefes fizeram para seu próprio aniversário. Você perdeu seus vínculos familiares e tenta criar conexões com a família para quem trabalha, no entanto, é tratada apenas como a empregada. O que fazer? Descontar nos outros a raiva que sente?


É dessa delicada relação entre patrões e empregada doméstica que trata La Nana, filme do chileno Sebastián Silva. Como todo problema delicado que ocorre no ambiente familiar, o caso de Raquel, a empregada problemática, é tratado com muitos dedos pelos patrões. Pilar, a mãe da casa, é a que mais sente pena de Raquel. Quanto mais Raquel nota a complacência dos patrões, mais se sente no direito de continuar fazendo o que bem entende. Claro, sempre se fazendo de vítima. A vida de Raquel só muda quando ela conhece Lucy, uma das novas empregadas que Pilar tenta colocar em casa. O que essa mulher faz para conseguir se aproximar de Raquel fica para quem assistir o filme!

La Nana começa ácido e termina terno. Raquel é uma anti-heroína. Impossível não odiá-la nos primeiros minutos da fita. No entanto, como boa vilã que é, suas ações trazem momentos hilários. Mas é igualmente impossível não sentir carinho por ela no final (outra bela interpretação, agora, da atriz Catalina Saavedra). A direção é naturalista, casando com as situações cotidianas e tornando as explosões emocionais das personagens muito realistas.

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