Casal desbrava País a bordo da Kombi Alice


Ela foi quatro vezes guinchada, teve um motor fundido e alguns probleminhas no freio. Nada disso impediu Alice, uma Kombi 2006, de rodar os 60 mil quilômetros que levaram o fotógrafo Franco Hoff, de 38 anos, e a editora de livros educacionais Inês Calixto, 48, para uma viagem pelo interior do Brasil. Ou como o casal prefere dizer: “uma viagem para o Brasil profundo”.

 

A experiência, que durou dois anos, resultou na exposição Brasil de Dentro: a vida que poucas pessoas veem – que está em cartaz na Ímã Foto Galeria, na Vila Madalena até dia 20 de agosto. Trata-se de uma seleção de 22 imagens em preto e branco, um recorte fotográfico dos encontros proporcionados pela estrada e, é claro, pela resistência de Alice (batizada assim pelo seu primeiro dono). A Kombi partiu de Aguaí, cidade do interior de São Paulo, chegou em Ubiraci, perto da Serra da Canastra, nascente do Rio São Francisco, e seguiu o curso do rio até Alagoas. De lá, visitaram Pernambuco, Paraíba, Fortaleza, Maranhão e cidades do Norte, Centro-Oeste e Sul. No total, foram 400 cidades, 100 oficinas de fotografia com a população das comunidades visitadas (principalmente com as crianças) e pequenas exposições em escolas públicas. “Foi uma viagem para o interior do Brasil. Mas foi também uma viagem para o interior de nós mesmos”, comenta Inês. “A gente aprendeu muito com as pessoas que a gente encontrou. Aprendemos sobre generosidade, amizade e confiança”, completa Hoff. Entre os personagens marcantes da viagem, registrados pela câmera de Hoff, o casal destaca um sertanejo de Choró, no Ceará. “Seu Cosme é um homem de idade. Mas todo dia, às 4h da manhã, se levantava para retirar 16 mililitros de água de um poço. Para isso, viajava por quatro horas montado em um jumento, o Biscoito”, conta Hoff. “E ele tinha umas histórias ótimas, dizia que já tinha batido em um lobisomem.” Inês e Hoff também se impressionaram com a vida dos vaqueiros da caatinga. “Eles são quase super-heróis. Entram no terreno repleto de cáctus, que pode machucar. Fora que, para pegar o gado, eles não usam laço, eles se jogam sobre o animal. É uma cena impressionante de ver”, diz Inês. Os percalços, aos poucos, transformaram-se também em histórias, que por sua vez se transformaram em fotos. “Eu queria fotografar os catadores de caranguejo dentro do mangue. Então acompanhamos um catador. Ou melhor, tentamos acompanhá-lo. Pra quem não tem experiência, é fácil ficar atolado no mangue. Eu não conseguia me mexer”, conta Hoff. “Levou um tempo para que eu conseguisse me sentir à vontade, aprendesse a me mexer no mangue e conseguisse as fotos.” Com dois anos de estrada, Hoff e Inês sentiram falta das facilidades da cidade grande. “Teve uma vez que a gente rodou horas atrás de uma pizza”, confessa Hoff. Além da dificuldade de encontrar um fast-food, a dupla teve outros, estéticos: “Quando chegamos numa cidade do Rio Grande do Sul, eu estava tão barbudo, mas tão barbudo, que as pessoas chamaram até a polícia. Visualmente, eu era chocante para aquela comunidade. Dois barbeiros se negaram a me atender. Foi uma loucura”. Uma das vivências mais emocionantes foi com uma comunidade indígena. “Passamos alguns dias com eles. Na hora de ir embora, os índios vieram pedir para que a gente ficasse ali, vivendo e morando com eles. Foi um momento muito bonito”, diz Inês. Com o fim da jornada, e a mostra m cartaz, a dupla pensa em novas aventuras para a Kombi Alice. “Estamos prestes a lançar um livro contando a experiência e com todas as fotos. E vamos embarcar em outra viagem. A ideia é levar Alice para outros caminhos. E, quem sabe, transformá-la em biblioteca itinerante”, conta Inês.

 

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