MISTÉRIOS SOBRE O ASSASSINATO - O ENÍGMA CÁSSIO E BRUTUS


Quadro famoso sobre o mais célebre assassinato da História

Poucos fatos históricos são tão conhecidos como o assassinato de César e sobre ele nós já falamos bastante, porém o episódio está cheio de circunstâncias estranhas que constituem verdadeiros mistérios. O primeiro deles, que abordaremos hoje, é o fato dos líderes da conspiração, Cássio e Brutus, serem amigos próximos do grande estadista. Cássio fora seu colega de juventude e participaram juntos de estudos e eventos esportivos. Conta-se que quando disputavam prova de natação no rio Tibre, César teve uma câimbra e começou a se afogar; Cássio voltou-se para salvá-lo e perdeu a competição! O futuro poderoso amigo sempre lhe foi grato e com ele conservou boas relações de amizade mesmo após a briga com Pompeu, pois Cássio ficara do lado deste. Não tinha havido uma só família patrícia em Roma que não tivesse participado da contenda e sofrido perdas ou sérios agravos de ambos os lados, por isso todos acharam melhor apoiar César na pacificação da República ao invés de guardarem mágoas insanáveis. Embora não fossem íntimos, César zombava muito da esbelteza do velho amigo dizendo que ele era magro porque “comia de menos, falava pouco e pensava demais”! Cássio levava na esportiva e nunca houve rusgas entre os dois por conta das brincadeiras.

O caso de Brutus é ainda mais estranho. César era amigo da sua família e dezesseis anos mais velho; o conhecera ainda menino e tivera um ardente caso amoroso com a sua mãe, muito falado na alta sociedade romana da época. Quando ele entrou ainda jovem para o Senado, César o protegeu e incentivou a sua carreira política, pois se davam bem e o amigo mais velho tratava o mais novo como “afilhado”. Todavia, há uma pista sobre os reais sentimentos de Brutus em relação a César: na guerra civil ele apoiou Pompeu e não o “padrinho”! César era generoso e, como o seu objetivo maior era pacificar a República e solidificar o seu poder, perdoou tudo porque Brutus e Cássio eram do Partido Conservador e este apoiara Pompeu maciçamente. Portanto, eles nada tinham feito de traiçoeiro ou excepcional. Para governar, César precisava do apoio geral e não iria desperdiçar antigas parcerias que continuavam aparentemente firmes e poderiam ser muito úteis. Com habilidade, agiu como se nada tivesse acontecido e reiniciou as velhas amizades no ponto em que elas tinham sido interrompidas.

Por que então ambos conspiraram contra o amigo de forma tão odienta, a ponto de tomarem parte pessoalmente no brutal e covarde assassinato?

A surrada explicação de que eles “amavam a República acima de tudo” e temiam que César a “destruísse” não convence, porque estavam muito bem sob o seu governo e seriam muito mais úteis à preservação dela estando com ele do que contra ele. Não tinham jamais manifestado oposições a César no Senado depois que ele voltara da guerra contra Pompeu e, nem mesmo Brutus, que era orador razoável, jamais discursara contra o amigo Ditador. Ficara evidente a todos que o velho sistema republicano oligárquico, com as suas eternas rivalidades entre indivíduos ambiciosos e grupos interesseiros, era incapaz de propiciar estabilidade política à República e segurança pessoal aos cidadãos, por isso necessário era ter um "presidente da república" que fizesse prevalecer os interesses da sociedade em lugar dos interesses de indivíduos e facções. Enfim: o "Estado Anárquico" da oligarquia tirânica tinha que ser substituído pelo "Estado Constitucional" da monarquia democrática. Para tanto não era preciso que o monarca se chamasse rei ou presidente: bastava chamar-se César! Dali em diante todos os líderes alçados à curul capitolina foram chamados de César por força do costume e não da lei.

Quando em janeiro de 44 AC o mandato ditatorial terminou, o Senado lhe deu outro de "ditador vitalício" e contra isso não se insurgiram Cássio e Brutus. Aliás, nem mesmo Cícero, o mais destacado líder da oposição, manifestou-se contra. Por que então apenas um mês depois conspirariam por "altas razões de Estado" antes não manifestadas contra alguém que gozava do apoio de todos, inclusive do seu?

Penso que os motivos deles são muito mais terra-a-terra do que imaginamos, pois tendemos a conferir Altas Razões de Estado a fatos que não passam de fruto podre de mesquinhas razões pessoais. Parece-me que o caso de Cássio e Brutus é um deles.

O jovem César, ainda com cabelos, era um homem bonito e elegante. Sua cultura e refinamento o tornavam sedutor aos homens e irresistível às mulheres, fazendo com que a bela mãe de Brutus fosse uma de suas conquistas mais comentadas na alta sociedade romana.

Os franceses, quando há um crime misterioso para o qual não acham explicações razoáveis, costumam aconselhar: Chercher la Femme (procurem à mulher)! César era mulherengo inveterado e fala-se que poucas damas da alta sociedade lhe tinham escapado. O seu caso com a mãe de Brutus fora muito falado na época e ele certamente o sabia. Talvez o soubesse desde a adolescência e houvesse sido alvo de ridicularias, insultos e graves humilhações de colegas, acumulando em sua mente sombria ódio silencioso e implacável contra o causador da sua injusta desonra. Motivos de natureza freudiana sempre estiveram presentes em crimes de estudada traição e excesso de violência, como foi o assassinato de César, e só um ódio passional antigo e muito entranhado poderia explicar a atitude de Brutus.

O caso de Cássio não é tão claro quanto o de Brutus. Ele e César eram da mesma idade e muito difícil seria a um deles ter caso com a mãe do outro dado a diferença de idade com as respectivas matronas. Mas esposas, filhas, irmãs e amantes não estão nessa categoria e é razoável supor que César tenha seduzido alguma mulher que era muito querida a Cássio e ele só tenha sabido disso próximo ao assassinato, quando então passou a odiar o amigo e planejou vingar-se dele, atraindo Brutus para a trama por conhecer de sobra as suas razões para tomar parte na sórdida empreitada. A “preservação da liberdade face à tirania” seria a nobre razão política a ser dada ao povo romano como motivo!

Não excluo a possibilidade de outros conspiradores estarem no mesmo caso de Cássio e Brutus, mas sendo eles cerca de trinta é certo que muitos dos outros assassinos teriam motivos diferentes para o crime.

Porém acho que a defesa da República não era um deles!

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