O Buraco do Mineiro não era só embaixo......
Entre milhões de telespectadores contentes, uma mulher sofreu com a cena do resgate na mina
A história de Marta Salinas, que assistiu pela televisão seu marido, o mineiro Yonni Barrios, ser recebido pela amante na saída
A história de Marta Salinas, que assistiu pela televisão seu marido, o mineiro Yonni Barrios, ser recebido pela amante na saída
Quando Susana Valenzuela entrou na sua casa, na periferia de Copiapó, aos prantos, porque Yonni Barrios havia sofrido um acidente na mina San José, onde trabalhava, Marta Salinas pensou, mas faltou coragem para falar. “Não é você a nova mulher? Que vá então resolver o problema”. Não teve coragem. Ainda é apaixonada pelo marido, que a trocou pela vizinha. Seria uma situação comum se ele não fosse um dos mais novos heróis do país - e se o mundo não tivesse sido testemunha desse triângulo, desfeito com a negativa de Marta ao pedido do mineiro, que queria mostrar a todos suas duas mulheres quando saísse do buraco onde esteve por 69 dias.
Marta sente vergonha. Está maquiada com forte sombra cor de cobre, como sua pele, usa um confiante batom roxo e olha firme com quem fala, mas entrelaça os dedos entre as pernas com nervosismo para afirmar que tem uma família, filhos e netos que não merecem ouvir as piadas que seu marido ensejou. Ela aceitou conversar com a reportagem do site de VEJA em sua casa, na cozinha, olhando para o mesmo balcão branco que foi o motivo do fim de seu casamento, uma união que durou quase três décadas.
Oito casas acima vive a mulher que encomendou a peça feita por Barrios - que, por sinal, é “muito, muito habilidoso”, lembra Marta, em apenas uma das muitas qualidades que enumerou quando falava sobre o mineiro. Há dois anos, as idas à casa de Susana transformaram a vizinha em amante. Ela sempre soube, mas perdoava: “Porque era comigo que ele vinha se proteger”. Marta comenta sua situação: “Quantos mineiros têm mais de uma mulher por aí? No mundo, quantos têm casos? Foi culpa minha. É sempre a gente que permite”. Por culpa ou por qualquer outra razão, esteve no acampamento Esperança por 65 dias consecutivos e oito noites em claro esperando pelo marido que ordenou, em sua primeira carta à superfície: “Deem todo o meu dinheiro à Susana. É com ela que vivo e é por ela que sou apaixonado.”
Susto - A família de Barrios, que nunca aceitou a amante, não entregou todo o dinheiro - só deu a Susana o suficiente para que pagasse as contas do mês. Marta depositou num banco os 8.000 dólares doados por um empresário e recebeu outros presentes que chegavam – de tênis Nike e lembranças do presidente Sebastian Piñera a um crucifixo entregue por diplomatas palestinos. Tudo isso entregará a Barrios. “Mas quando ele vier aqui pegar, porque nem ao hospital eu vou”, avisa. A mágoa maior veio na última segunda-feira, quando foi divulgada aos familiares a lista de quem receberia os mineiros na saída do túnel. Os nomes foram escolhidos pelos próprios. Marta levou um susto. “Vi meu nome e o dela, apenas nós duas. Ele sempre fez isso comigo, não é uma novidade. Mas precisei viver toda essa situação para me dar conta.”
Marta se recusou a aceitar o pedido. O psicólogo responsável pelo acompanhamento de mineiros e familiares, Alberto Iturra, tentou dissuadi-la. “Estava pensando apenas nele, no momento que vive. Mas e eu? Também sou um ser humano, também sinto.” Por videoconferência, Barrios já havia tocado no assunto, mas ela não levou a sério. “Imaginava que podia fazer qualquer coisa comigo. Mas me colocar na frente das câmeras que estão correndo o mundo, ao lado da outra, com ele no meio, foi demais para mim”, explicou.
'Ele me procurava' - Ela manteve a decisão, não foi à mina e assistiu ao resgate pela televisão. “Não chorei. Estou feliz pelo resgate, por todos os 33. Não por ele, que para mim não é mais nada”, contou, com as bochechas tremendo e os olhos cheios de lágrimas, mas com a feição intacta. “Ele me ensinou a ser dura”, lembrou, antes de amolecer e apontar para a televisão dizendo que percebeu que Barrios não estava bem quando saiu da cápsula, na tarde da última quarta-feira. “Um pouco pelo problema de alcoolismo que enfrenta, mas sabe pelo que mais? Ele não a beijou, e me procurava. Não acreditou que eu não iria”. O problema de alcoolismo foi desmentido pelo ministro da Saúde durante todo o tempo em que estiveram soterrados, mas Marta o confirma à reportagem. Assim que soube o período longo em que estaria confinado, ela temeu por crises de abstinência e por problemas psicológicos que Barrios teria ao parar de beber tão bruscamente.
Quando comenta a quantidade de doações que ele já recebeu - cerca de 20.000 dólares - diz que o dinheiro pode durar pouco. Marta fala que já o viu gastar metade disso “em um mês, bebendo”. O que também passará rápido, sabe ela, é a fama, “que não dura mais do que 15 minutos, todos sabemos". "Com o primeiro terremoto foi assim, com o segundo também. Ainda há gente sem ter onde morar, dormindo em barracas, e ninguém diz mais nada”, lamenta, em referência às vítimas das últimas tragédias chilenas. O próximo passo é pedir o divórcio. “Cheguei até onde consegui e daqui não passo. Foi demais para mim. Que viva a vida dele e aproveite o momento. Serão dois, três meses, e tudo acabará.”
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