Uma musa para Pedro Américo - A Carioca


Sheilla Liz

Série de posts relativos ao Curso de Especialização em História Social da Arte, PUC-PR. Disciplina: História Social da Arte Brasileira. Professor Mestre: Wilson Maske - Trabalho relativo a conclusão de módulo. Maio 2011. 

Pedro Américo e A Carioca
A Carioca - 1882 (versão original pintada em 1862.)

Análise Histórica

-A tela A Carioca foi realizada por Pedro Américo em Paris entre 1862 e 1863, período em que o artista brasileiro era bolsista do Imperador Pedro II.
-Em 1865, o jovem artista envia a pintura para a décima sétima Exposição Geral, realizada na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde recebe Medalha de Ouro. 
-Pedro Américo presenteia o imperador, seu mecenas, com a tela, no entanto a obra é recusada pelo Mordomo Mor da Casa Imperial, Paulo Barbosa, que considerou o nu escandaloso para os padrões morais palacianos.
-A tela retorna, então, ao ateliê do pintor em Florença, despertando mais tarde o interesse do Imperador Guilherme I, da Prússia, que a adquire. 
-Duas décadas depois, em 1882, Pedro Américo decide fazer uma réplica com variações da mesma Carioca. Apresentado na vigésima sétima Exposição Geral de Belas Artes do Rio de Janeiro.
-O quadro é incorporado à pinacoteca da Academia Imperial, constituído-se, em 1937, peça do acervo do Museu Nacional de Belas Artes do Rio, onde se encontra atualmente.
Análise de influências
-Logo que chega à Europa em 1859, Pedro Américo torna-se aluno de Dominique Ingres e Horace Vernet. 
-Ingres, um dos mais importantes pintores neoclássicos, foi seguidor dos mestres do renascimento. Inspirava-se em Rafael, de quem herdou as linhas e a leveza das figuras femininas, especialmente suas ninfas e Vênus que parecem seres imateriais. 
-A obra A Fonte (1856), de Ingres, se comunica muito de perto com A Carioca. Ingres foi um dos grandes expoentes do orientalismo. 
A Fonte- Dominic Ingres
-Embora a tela de Pedro Américo se vincule à estética clássica, pode-se perceber claramente uma referência ao barroco de Caravaggio. (São João Batista como uma Criança.)
Caravaggio - São João Batista como uma Criança.



Análise técnica
-A Carioca, como toda figura clássica, está centralizada e tem uma luz que a ilumina de frente, seguindo o princípio renascentista da clareza absoluta. A linha é o caminho através do qual se constrói a figura.  
-Embora a iluminação permita clareza absoluta, o fundo é extremamente escuro fazendo uma alusão à natureza local como um lugar misterioso. Ao fundo, o céu claro parece explodir, chamando-nos a atenção para a natureza, as nuvens, a atmosfera.
- Os olhos morenos da Carioca sustentam o olhar do observador sem medo. Estão imersos em certo sfumato à moda de Leonardo da Vinci, de modo que não se vê claramente o contorno, as finalizações dos olhos, parecem esmaecer nas sobrancelhas: dois traços extremamente marcados. 
-Uso de azuis ‘quentes’: ftalocianina e ultramar.Outros tons aquecidos são encontrados, o vermelho francês em alguns pontos é quase cru.Pedro Américo tinha a clara intenção de esquentar a cena.
A musa de Pedro
-Segundo alguns estudos PA teria usado como modelo para o rosto de A Carioca, a foto da esposa de um funcionário do consulado brasileiro na França.
-Entre as décadas de 1860 e 1870, o que era realmente  mais moderno e alvo de polêmica, não eram as posturas impressionistas, que ainda eram desconhecidas, mas o uso da fotografia “científica” pelos pintores. Nesse sentido o pintor inovou na técnica pictórica ao abolir o uso de modelos vivos.
-O que é estranho, é que o rosto da Carioca parece ser o mesmo em todas as pinturas femininas do artista durante sua vida, aparentemente um ideal de beleza feminina que o pintor buscava.









Curiosidades sobre a Carioca

- O trecho a seguir foi extraído do livro 'Amor d´esposo' de Pedro Américo. Segundo o prólogo do autor, o livro foi escrito na mesma época que pintou a primeira versão da Carioca.
“elle, que jamais se havia achado face a face com uma mulher tão linda, estava enlevado, attonito,sem atinar com os nomes das cousas, procurando em vão encobrir o acanhamento, e cada vez mais perturbado, mais distante do seu natural desembaraço; tal era a fascinação que lhe causava aquella encantadora apparição. Em um instante ficou-lhe demonstrado quão incompletas eram as suas idéas a respeito da força magnetica da mulher, e da fragilidade, não diremos humana, porém masculina.” (Amor d´esposo- Pedro Américo- p 18 - 1882- Florença.
-Após ser comprada pelo rei da Prússia a tela fez parte de nosso estande na Exposição Universal da Filadélfia, junto com a poesia de Sousândrade que destacava a importância das ‘coxas’ para nossa indústria nacional.“— Antedilúvio 'plesiosaurus,' Indústria nossa na Exposição... — Oh Ponza! que coxas! Que trouxas! De azul vidro é o sol patagão! (...) “Sousândrade
-Ângelo Agostini, na Revista Ilustrada (13 de setembro de 1884) reproduz a tela com a seguinte legenda: “A Carioca, com variações sobre flauta. Segunda flauteação. Apesar de tomar banhos em azeite para curar a perna esquerda, esta continua cada vez mais inchada”.

-Monteiro Lobato é implacável: “A discutidíssima Carioca só o é no título. Fora daí, um simples nu, uma ninfa, uma banhista, um fonte tão carioca como as mil co-irmãs que abarrotam as pinacotecas européias.” 
-A falta de brasilidade é também retomada por José Murilo de Carvalho a respeito de Pedro Américo: “... quando lhe ocorreu representar a mulher brasileira, produziu um nu e lhe deu o nome das habitantes da Corte. Poderia ter escrito embaixo A francesa...”  
-Gonzaga Duque, pouco após a morte do artista, em 1905. “ A beleza da forma que a Carioca possui, a flexibilidade de suas curvas, a segurança de seus contornos, a exuberância de suas massas musculares, ficaram como características de um estilo, a que o colorido veio completar com uma turbulenta riqueza de tons crus.”

A Carioca by Pedro Américo

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