José Alencar Gomes da Silva



E, nesse ponto, inicia o relato de sua própria história, desde que saiu de casa na pequena Miraí aos 14 anos rumo a Muriaé, ambas no interior de Minas Gerais. "Mas não foi para estudar, não, porque meu pai não tinha condições de pagar. Foi para trabalhar mesmo." Ao se despedir da família, disse:

- Bênção, pai, bênção, mãe.

Ouviu então do pai, Antônio Gomes da Silva, uma frase que passou o resto da vida repetindo e levando a sério:

- O importante na vida é poder voltar.

Aos 18 anos, pediu a seu Antônio para ser emancipado legalmente (a maioridade era aos 21) e pegou dinheiro emprestado com o irmão Geraldo, quase 18 anos mais velho, para abrir seu primeiro negócio: "A Queimadeira", uma loja de tecidos em Caratinga.

Eram 15 contos de réis, e ele pagava 1,5% de juros ao mês a Geraldo.

Um belo dia, o gerente da agência do Banco Hipotecário e Agrícola do estado de Minas Gerais, também chamado Geraldo - Geraldo Santana-, questionou:

- Ô menino, seu irmão está cobrando juros muito caros! Eu ofereço 1%.

Encucado, Alencar procurou o outro Geraldo, seu irmão, e cobrou. Resposta:

- Eu nunca te cobrei juros. Aquilo é o aluguel do dinheiro!

A plateia quase vem abaixo, as risadas correndo soltas.

E qual a diferença entre juros e aluguel do dinheiro? Geraldo explicou, de irmão para irmão: no banco, a promissória vence e as pessoas têm de pagar de qualquer jeito, senão perdem tudo. Com ele, Alencar só precisaria pagar o aluguel do dinheiro, deixando para amortizar o principal quando tivesse condições para isso.

- Então, você me doou o dinheiro? quis saber Alencar.

Resposta:

- Não doei nada. Quando você fizer capital, você vai me pagar. Mas aí não vai te fazer falta.

Moral da história, 50 anos depois, nas palavras de Alencar: "Aprendi que o dinheiro tem custo e precisa ser remunerado, e que o dinheiro de longo prazo é um estímulo para o jovem começar a vida."

Lembra também o pulo do gato da sua vida empresarial, quando ele e o sócio, Luiz de Paula Ferreira, criaram a Coteminas com apoio da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste) e como isso foi decisivo para todo o resto da história.

Entre uma coisa e outra, ou entre aquele primeiro empréstimo de Geraldo e o apoio da Sudene, muita água rolou. E, claro, Alencar não deixa de contar ali, naquela solenidade, como começou a vida ganhando 300 cruzeiros por mês como vendedor, morando num cantinho de corredor num hotel barato, depois de uma longa negociação com a proprietária, dona Maria. Ela queria cobrar 280 contos de réis pelo cantinho e três refeições por dia. Ele teria pechinchado ao máximo:

"Foi o primeiro negócio que fiz na minha vida, aos 14 anos de idade", exulta como se tivesse acontecido dias antes. "Equilibrei meu orçamento quando chegamos a 220 contos de réis e com roupa lavada!" Novos aplausos, novos risos. A plateia já estava totalmente cativada.

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