O egoísmo se manifesta entre os colonos:


"certas famílias comiam enquanto outras jejuavam".

 A anarquia está nesse período "intelectualmente prostituída", segundo os termos de Rossi.

"A ditadura e o parlamentarismo substituem os princípios anarquistas, os colonos estabelecem um "sistema grotesco de referendum" e perdem seu tempo e suas energias em "assembléias inúteis, onde não saem mais do que promessas não cumpridas, ambições mal dissimuladas e falatórios ridículos".

 Entre os colonos que, entretanto, se dizem todos anarquistas, projeta-se a figura de um chefe, "aquele que se impôs como administrador" e que Cappellaro definiu como "um protetor que tinha o bom coração de prometer, mas que não tinha a energia nem a memória necessárias para manter". Em uma carta de Giovanni Rossi a sua família, datada de outubro de 1891, entende-se que esse "gerente" é Achille Dondelli6 O rumo que toma a organização da Cecília, a miséria da qual sofrem seus membros, a conduzem à dissolução.

A crise se concretiza na metade de junho de 1891, quando

 "sete famílias, entre as quais duas das que chegaram no início apoderam-se dos animais da colônia".

As outras famílias se dispersam, todos encontram trabalho em Curitiba. Os Gattai fazem parte dessas famílias que deixam muito rapidamente a colônia. Eis o que declara Francesco Gattai a um funcionário da polícia em Florença, em 28 de novembro de 1902:

"Eu deixei a Itália em 1891 e me dirigi para a América do
Sul, com a intenção de me associar, em Palmeira, a uma colônia
experimental fundada sobre bases socialistas. Eu cheguei de fato
lá, mas a colônia, nascida sob os auspícios do Dr. Giovanni Rossi e
outros, funcionou mal e, ao final de três meses, ela se dissolveu."

Algumas famílias escrevem um texto para explicar sua partida. O
conteúdo desse texto, que não chegou até nós, é comentado por Rossi na
carta que ele envia a sua família em outubro de 1891. Para ele, a crise da
colônia, à qual ele não assistiu, visto que estava na Itália, deve ser imputada
às pessoas que a compõem e não à experiência em si mesma:

"A brava gente de Cecina escreveu para justificar a sua
deserção da Colônia. Não é verdade que a crise tenha acontecido
por causa da miséria, porque, uma vez pagas todas as dívidas, as
contas ficaram equilibradas, sem falar dos animais de criação (do
valor de mil liras mais ou menos), dos quais se é abusivamente, mas
legalmente, apropriado o grupo das primeiras famílias que chegaram
no local. É verdade que a família Dondelli se havia imposto e fazia
a lei, mas as pessoas de Cecina, assim como as outras, ao invés de
eliminá-la, a idolatravam. É verdade que alguns comeram até a
barriga estourar e fizeram provisões de alimentos por dois ou três
dias.(...) É verdade que, nos últimos dias, a fome tinha se feito sentir
novamente, mas não porque os meios faltavam, e sim porque o
indispensável Dondelli não tomava providências a tempo de fazer
as compras, porque as chuvas haviam estragado o moinho e porque
as mulheres se recusavam a limpar os utensílios de cozinha e os
homens se recusavam a levar a água para a polenta. É bem a prova
que a culpa foi dos colonos e não da Colônia.(...) É verdade que em
fevereiro, os animais destruíram as plantações (o milho e o feijão)
por causa da negligência dos primeiros colonos, que não fizeram
cercados suficientemente fortes e que não vigiaram a plantação como
era necessário."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

10 tipos mais conhecidos de tortura utilizados durante o Regime Militar

Boa Sorte, Merda ou Quebre a Perna?

Barquinho pop-pop