A Guerra do Contestado (1912-1916) - Meninos do Contestado

Meninos do Contestado



Às vésperas do centenário da guerra, o Estado apresenta uma investigação jornalística que traz as memórias de infância de três brasileiros que sobreviveram à maior rebelião civil do século 20




O Estado de S.Paulo

A Guerra do Contestado (1912-1916), ocorrida na divisa entre Santa Catarina e Paraná e considerada a maior rebelião civil do País no século 20, será tema de um debate.
O debate Meninos do Contestado terá a participação do professor de Sociologia José de Souza Martins, titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e estudioso de movimentos sociais, e dos repórteres Leonencio Nossa e Celso Junior, que contarão os bastidores do caderno especial Meninos do Contestado, publicado pelo Estado em fevereiro para marcar os 100 anos do início da guerra. Também será exibido um vídeo produzido pelos dois jornalistas em Santa Catarina, região do conflito, com depoimentos de sobreviventes e reprodução de fotos da época.

As origens da guerra remontam a 1910, quando a Brazil Railway, subsidiária da Lumber Company, concluía a construção do trecho da ferrovia São Paulo-Rio Grande do Sul no território disputado por Santa Catarina e Paraná, o Contestado. A Lumber conseguiu concessão do governo para explorar pinhos e imbuias nos 15 quilômetros de cada lado da ferrovia.

Com isso, 4 mil trabalhadores recrutados em outros Estados para as obras foram demitidos e expulsos de cabanas levantadas nas margens da estrada. A eles se juntaram andarilhos messiânicos que viviam em terras entregues à Lumber e federalistas foragidos do Rio Grande do Sul.

Cenário. O Brasil de 1912 ainda vivia sob o impacto da proclamação da República, duas décadas antes. Representantes do setor agrário de São Paulo e Minas e militares eram os protagonistas de um regime com instituições tomadas pela corrupção e que não conseguia evitar rebeliões nas cidades e no interior.
O presidente Hermes da Fonseca, um militar de carreira, mantinha a política do tio, Deodoro, proclamador da República, e de Floriano Peixoto de aniquilar defensores da monarquia. A presença de federalistas, adversários de Floriano, no movimento do Contestado foi usado pelo governo para esquecer o desastre de Canudos, de 1897, e enviar o Exército para mais uma batalha no sertão, dessa vez no Sul do País. Mesmo deixando 10 mil mortos e um rastro de destruição, o conflito segue pouco conhecido pela maioria dos brasileiros.
Martins vai abordar as causas e o contexto político do País na época da guerra. Colunista do Estado, Martins pesquisou movimentos milenaristas no Brasil, dentre eles o do Contestado - em 1979, ele visitou a região e conheceu cenários de episódios da guerra. Dentre outros livros relativos ao tema escreveu Os Camponeses e a Política no Brasil (Editora Vozes) e O Sujeito Oculto (Editora da UFRGS).

Para recontar a Guerra do Contestado (1912-1916), o repórter especial da Agência Estado Leonencio Nossa e o repórter fotográfico Celso Júnior consultaram 13 caixas de documentos militares produzidos durante o conflito. Mais de dois mil papéis e 87 fotografias foram reproduzidos.

Nossa e Celso Júnior - que no ano passado ganharam seis prêmios com o caderno especial Guerras Desconhecidas do Brasil, publicado pelo Estado em 19 de dezembro de 2010, outra reportagem investigativa com viés histórico - também consultaram coleções de periódicos da Biblioteca Nacional, do Rio de Janeiro, e processos de terras dos cartórios de registros de Lebon Régis e Porto União, em Santa Catarina.
Foi com base na análise do acervo militar, em especial no olhar das crianças prisioneiras retratadas em antigas fotografias, que a reportagem do jornal percorreu cidades e povoados de Santa Catarina e do Paraná, num total de 8,5 mil quilômetros de estradas, para colher a versão cabocla da história e conhecer o legado deixado pelo conflito. Remanescentes da revolta e descendentes de rebeldes que lutaram contra os militares dão sua versão ou apresentam o imaginário popular dos fatos descritos em documentos militares. Eles falam também da vida atual. As impressões sobre a realidade do Contestado e a coleta de histórias orais foram obtidas em cem dias de trabalho de campo, além da análise das ações e repasses de verbas do governo para as cidades da região.
Para localizar as "crianças" do Contestado, o Estado recorreu a cinco rádios da região, sistemas de som de postes, blogs comunitários, pequenos jornais, comunidades religiosas e cartórios de registro civil de várias cidades.
As referências bibliográficas deste trabalho são os livros Lideranças do Contestado, de Paulo Pinheiro Machado, Messianismo e Conflito Social, de Maurício Vinhas de Queiroz, Contestado, a Guerra Cabocla, de Aureliano Pinto de Moura, e Guerra do Contestado: A Organização da Irmandade Cabocla, de Marli Auras.

Leia abaixo as reportagens:

Depoimentos de sobreviventes da Guerra do Contestado
Produzido exclusivamente para o site do Estadão, "Meninos do Contestado" tem como tema a maior rebelião do país no século 20


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