Sociedade Feudal
No estudo da sociedade medieval, comumente fazemos uma distinção inspirada nos dizeres de um bispo do século XI, que assim dizia: “...uns rezam, outros combatem e outros trabalham.”. Porém, ao estudarmos a sociedade medieval podemos levantar uma dinâmica de grupos sociais que nos mostram, na verdade, uma outra série de grupos que circulavam no interior dos feudos. Portanto, podemos vislumbrar algo para além do clero, dos nobres e dos servos.
O clero tinha grande importância no interior dos feudos nessa época. Sendo a única classe letrada do período, a Igreja tinha grande influência nos costumes e formas de agir do mundo medieval. Os clérigos eram divididos entre alto e baixo clero. O primeiro era composto por bispos, abades e cônegos que influenciavam fortemente as decisões políticas dos reis e senhores feudais. O baixo clero era composto por padres e monges que cuidavam diretamente da vivência religiosa das populações feudais ou viviam enclausurados em mosteiros.
Os nobres eram representados pela figura do senhor feudal. Detentor de terras, o senhor feudal tinha autoridade dentro de suas posses. Devido o direito do primogênito, muitos dos filhos dos senhores feudais acabavam ocupando outras funções. Boa parte deles formava a classe dos cavaleiros, designados para garantir a proteção militar do feudo. Em outros casos, um nobre poderia se ocupar da administração das terras de um feudo ou voltava-se para a vida religiosa, ocupando algum tipo de cargo clerical. Esse tipo de prática viria a mesclar as origens das ordens clericais e nobiliárquicas.
Em alguns casos um nobre detentor de um extenso número de terras poderia conceder parte delas para um outro nobre. Na chamada cerimônia de homenagem o nobre proprietário de terras (susserano) concedia parte de suas terras ou algum tipo de privilégio econômico a outro nobre (vassalo). Em troca, o vassalo prometia oferecer auxílio militar para a proteção das propriedades pertencentes ao seu senhor. O chamado contrato feudo-vassálico acontecia apenas entre indivíduos pertencentes à nobreza.
Ocupando classes intermediárias na sociedade feudal, havia os vilões e ministeriais. Os vilões era uma classe de homens livres que não tinham a obrigação de estarem presos ao trabalho nas terras. Em geral, prestavam pequenos serviços para o senhor feudal e poderiam se mudar para outro feudo a hora que bem entendessem. Os ministeriais exerciam funções administrativas e, em alguns casos, podiam ascender socialmente ocupando o cargo de cavaleiro.
A classe servil era composta por camponeses destinados a trabalharem nas terras cultiváveis do feudo. Entre suas obrigações para com um senhor feudal, um servo deveria trabalhar compulsoriamente nas terras do senhor feudal (corvéia) e pagar as exigências feudais (redevances) que constituíam em um conjunto de impostos cobrados pelo senhor das terras. Entre outras exigências, senhor feudal poderia requerer parte da produção agrícola do servo (talha), cobrar um imposto pelo número de servos presentes no feudo (capitação), cobrar pelo uso das instalações e ferramentas do feudo (banalidades), entre outras cobranças.
Sendo uma sociedade de caráter separada em estamentos, a sociedade feudal ficou marcada por sua extrema rigidez social. Em geral, um indivíduo nascia e morria pertencendo a um mesmo extrato da sociedade. Somente com as transformações do século XI e XII que as primeiras transformações apareceriam no interior desse tipo de organização social.
A cerimônia de vassalagem
Ao falarmos sobre a cerimônia de vassalagem, temos a oportunidade de observar uma das mais importantes e significativas instituições de toda a Idade Média. Mais que um simples acordo de ordem econômica e política, essa solenidade nos abre caminho para a observação das instituições e costumes que contaminaram essa época. Sob essa última questão, a vassalagem se constituiu como uma das mais marcantes heranças da tradição germânica na Europa.
Do ponto de vista do acordo firmado, a vassalagem era viabilizada quando um senhor de terras manifestava interesse em doar parte de sua propriedade a um nobre que não possuísse terras. No entanto, ao invés de produzirem um acordo escrito que oficializasse o interesse entre as partes, os nobres envolvidos na situação organizavam uma cerimônia solene em que o compromisso seria confirmado por meio de todo um ritual, marcado por gestos e falas.
Sob o ponto de vista cultural, essa opção remonta às instituições e ao direito germânico, que semelhantemente se fundamentavam na realização de acordos orais sustentados por relações de fidelidade. A Europa feudal, assim como a cultura bárbara, se mostrava presente e importante naqueles tempos. Paralelamente, vemos no mesmo evento, o desfavor de uma cultura escrita, já que naqueles tempos o mundo letrado praticamente se restringia aos membros da Igreja.
Na solenidade, membros da Igreja e outras testemunhas se colocavam presentes no momento em que o vassalo jurava fidelidade, a prestação de serviço militar e auxílio sempre que o suserano apresentasse alguma necessidade. Em troca, o suserano garantia ao seu vassalo, o uso de domínio de terras, o direito de cobrança de pedágio em alguma localidade do feudo ou o exercício de um cargo. Era dessa forma que a nova relação social entre nobre estava firmada.
Para que a verdade e a seriedade fossem conferidas à situação, o vassalo deveria jurar a sua fidelidade na presença de relíquias sagradas de natureza religiosa. Desse modo, em tempos de forte devoção, o acordo deveria honrar aqueles ícones que “emprestavam” sua sacralidade à solenidade. Além disso, a conjunção carnal, feita por meio de um beijo, também reforçava uma situação de reciprocidade entre o suserano e o vassalo. O corpo era então empregado como instrumento simbólico de uma séria comunhão.
Com o passar do tempo, vemos que as relações de suserania e vassalagem determinaram a formação de uma extensa estrutura hierárquica entre os integrantes da nobreza europeia. O rei ocuparia o topo dessa estrutura, tendo sua autoridade limitada aos seus vassalos diretos. Em seguida, os duques, marqueses e condes exerciam sua autoridade em relação aos barões, vistos como os proprietários de menor influência. Além disso, havia os cavaleiros, os quais prestavam serviço mediante a proteção das propriedades existentes.
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