Vatel - Um banquete para o rei





Recepcionando a corte de Luiz XIV 



Elevada a estatura das mais celebradas artes, a gastronomia encontrou ao longo dos tempos chefs que verdadeiramente a fizeram grandiosa, bela e muito saborosa. Poucas foram as pessoas que perceberam as possibilidades que se encerram numa refeição, num banquete ou mesmo num simples prato de comida. Sabe-se, por exemplo, que os homens reúnem-se para celebrar as vitórias simples do cotidiano ou mesmo as mais árduas conquistas ao redor de uma mesa desde o período em que, literalmente, passaram a andar apoiados em suas próprias pernas (e deixaram de ser quadrúpedes), quando passaram a saborear carnes, ensopados, guisados, sopas, caldos e beber vinhos, sidras ou cervejas.
Transformar os tais momentos de júbilo e êxtase em celebrações inesquecíveis foi realização atingida por poucos mortais. Esses, na condição de verdadeiros mestres, produziam não apenas pratos de sabor especialíssimo, requintados, com ingredientes sofisticados e/ou exóticos; acabavam por criar atmosferas onde imperava o luxo nos detalhes (como toalhas de mesa, talheres, candelabros, guardanapos, móveis,...) e espetáculos visuais e musicais incríveis (organizavam os shows musicais, as danças, faziam as listas de convidados, preparavam fogos de artifício, representações teatrais,...).
Não se tratavam apenas de encontros que reuniam autoridades políticas ou religiosas, poderosos do mundo dos negócios e beldades a acompanhá-los ou ainda das maiores celebridades do mundo das artes e da cultura, simbolizavam momentos de exaltação dos organizadores do evento, principalmente daqueles que estavam patrocinando a festa e, nas entrelinhas, dos produtores (na prática) de todo o evento, especialmente dos mestre-cucas.
Que atire a primeira pedra quem discordar mas, comer é tão bom que não deveria ser considerado pecado! Realizar banquetes que misturam o melhor dos sabores e cheiros com as artes acabava muitas vezes levando reis e rainhas, dignitários e ricos comerciantes a praticar a gula. Conhecer a história dos povos e seus costumes passa necessariamente pela degustação de seus pratos principais. Que o digam os franceses (considerados ao lado dos italianos como os maiores experts europeus nas artes gastronômicas). Que o diga Vatel e seu banquete para o "Rei Sol", Luiz XIV.

A História

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Vatel (Gerárd Depárdieu, um especialista em personagens históricos) é o cozinheiro e mestre de cerimônias do Príncipe Condé (Julian Glover), nobre general francês que tem a difícil incumbência de receber a visita do rei Luiz XIV (Julian Sands) e de toda a sua corte. A época não poderia ser menos propícia para a chegada dos nobres parisienses já que Condé passava por dificuldades financeiras e teria que se endividar ainda mais para poder receber adequadamente (com luxo e sofisticação) ao rei e seus convidados.
Sua sorte reside no fato de que possui, em Vatel, não apenas um inspiradíssimo conhecedor das artes culinárias, mas também um criativo aliado para a elaboração dos espetáculos artísticos que deveriam entreter os ilustríssimos visitantes. Para Condé poderia ser uma importante oportunidade de aproximação em relação ao rei, prestes a declarar guerra aos holandeses e necessitando do auxílio de militares seguros e vitoriosos. Essa aproximação poderia inclusive auxiliá-lo no pagamento de suas dívidas.
Ganhar a confiança do rei passava necessariamente por banquetes e espetáculos impecáveis, totalmente a prova de erros e em busca de aprovação e satisfação do monarca e de seus seguidores mais próximos.
Para Vatel, no entanto, a aproximação da nobreza parasitária que rodeava o rei significava o contato com pessoas pelas quais tinha verdadeiro desprezo. Nada via de nobre na atitude daquelas pessoas. Sabia, porém, que deveria se esforçar para que Condé, por quem tinha grande estima pudesse superar seus problemas. Para complicar sua situação, Vatel acaba se interessando por uma jovem cortesã chamada Anne de Montausier (Uma Thurman, que já havia atuado em outro filme de época de grande repercussão, "Ligações Perigosas") que está despertando a cobiça de ninguém menos que o Rei Sol. Como Vatel poderia desatar os nós nos quais se via amarrado?

Reflexões

Casal-se-falando-de-frente

1- Na busca de novos temas que tornem a história ainda mais interessante para nossos alunos, o trabalho com temas relacionados ao cotidiano, como a alimentação (ou o vestuário, o lazer, a habitação, os meios de transporte,...), permite que as aulas sejam ainda mais ricas e incentivem os estudantes a participação nas discussões e projetos propostos.
2- Pode-se trabalhar de forma interdisciplinar relacionando a história da alimentação em seus diversos períodos com a biologia e/ou a química, especificamente com a repercussão dos hábitos culinários de cada época e seus resultados para a saúde das pessoas.
3- Outra nuance a ser aproveitada em "Vatel", relaciona-se a postura e a atitude da nobreza quanto a plebe. As relações sociais marcadas por um profundo desprezo ou por atos de desrespeito aos populares, que trabalhavam arduamente para que os nobres se divertissem, servem de parâmetros para comparações com os tempos atuais e os preceitos defendidos em leis nacionais e internacionais.
4- Qual é o preço da dignidade de um homem? Encerro as propostas relacionadas ao filme propondo uma análise profunda quanto ao destino de Vatel. Até que ponto a autoridade de alguém pode definir os rumos e caminhos de uma outra pessoa (ou de muitas outras)?

Ficha Técnica
Vatel
(Vatel - Um Banquete para o Rei)
País/Ano de produção:- Fra/Ing, 2000
Duração/Gênero:- 117 min., Drama
Disponível em vídeo e DVD
Direção de Roland Joffé
Roteiro de Jeanne Labrune
Elenco:- Gerárd Depardieu, Uma Thurman,
Tim Roth, Julian Glover, Julian Sands, Timothy Spall.



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