Armin Henkel/ Arquivo casa da memória, Gazeta do Povo
A notícia parece ser meio absurda, mas era o que os jornais estampavam em suas páginas na década de 1950 em Curitiba: a capital tinha oito casas sendo construídas por dia útil. E já contabilizava, nessa década, cerca de 40 prédios com dez ou mais andares. Os dados mostram que os chamados anos dourados que passavam pelo Brasil – em decorrência do final das duas grandes guerras, da industrialização e aumento de empregos – também dava as caras por aqui.
A população rural diminuiu bruscamente e as cidades, até então provincianas como a capital do Paraná, começaram a inchar. Isso impulsionou a construção civil e o desenvolvimento. A influência do capitalismo norte-americano também cresceu nesses dez anos: as casas passaram a ter seus liquidificadores e enceradeiras, e o número de tomadas aumentou a ponto de uma residência ter sido projetada com 11 tomadas (apenas na cozinha!). A população saía com fervor às ruas para ir ao cinema ou ao hipódromo recém- inaugurado. Sempre de olho na roupa do próximo.

Arthur Júlio Wischral /Casa da memória / Guarda de trânsito em frente da Catedral de Curitiba. Atrás dele, um “coach”
Guarda de trânsito em frente da Catedral de Curitiba. Atrás dele, um “coach”


“Não é errado afirmar que havia mais sociabilidade nas ruas e cafés dos anos 50 em Curitiba do que na atualidade”, afirma o historiador Marcelo Sutil que, com a historiadora Maria Luíza Baracho e a arquiteta Dóris Teixeira, responde pela curadoria da exposição Curitiba Anos 50, lançada no Memorial de Curitiba, evento da Fundação Cultural. A mostra traz fotos que revelam a cidade nos anos 50 e histórias curiosas, como a dos lugares que existiam e eram velados a elas: o armazém Guairacá, por exemplo, era dedicado exclusivamente aos homens que queriam beber uísque e discutir política, economia e esportes.

Para além do Portão
Eram 180 mil os curitibanos. Com tanta gente, os bondes perderam espaço e a frota de ônibus coletivos aumentou. As ruas, muitas até então empoeiradas, ganharam pavimentação e os bairros se expandiram. “A cidade ia para além do Portão, Água Verde e Santa Quitéria. Além disso, foi a época da verticalização. O Edifício Garcez havia sido construído em 1936 e, em dez anos, era o mais alto com apenas oito andares. Quando surgem, na década de 50, os prédios de 20 andares, isso surpreende a cidade que ganhou jeito de metrópole”, explica Sutil. Além dos “arranha-céus”, as ruas receberam ares modernistas, com construções mais retas e com uma nova linguagem, como os prédios da Reitoria da UFPR, a Biblioteca Pública e o próprio Palácio Iguaçu. É ainda a época em que se comemora o centenário de independência do Paraná e o período em que o estado é governado por Bento Munhoz da Rocha. “O Centro Cívico começou a ser construído e foi fonte de inspiração para o projeto de Brasília”, explica o historiador Wilson Waske, professor de História da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Ano a ano
Curitiba em poucas pala­vras na década de 1950:
1950 – 180 mil pessoas viviam na capital. É criada a Companhia de Transportes Coletivos e a cidade ganha uma nova frota de ônibus, conhecidos como coachs.
1951 – Começa o governo de Bento Munhoz, que vai até 1955.
1952 – Bondes deixam de circular em Curitiba.
1953 – Ocorre a exposição mundial do café, reflexo do boom econômico. É criado o novo Código de Posturas e Obras do Município. Também é comemorado o Centenário de Independência do Paraná.
1954 – Em dezembro deste ano é inaugurado o Palácio Iguaçu.
1955 – No final do ano é inaugurado o Hipódromo Club do Paraná.
1956 – A inauguração do teatro experimental do Teatro Guaíra movimenta a cidade.
1957 – Curitiba ganha a primeira galeria profissional de arte moderna, a Cocaco.
1958 – É instalado na Praça Rui Barbosa o Teatro de Bolso, dirigido por Ary Fontoura.
1959 – Acontece a Guerra do Pente, briga entre comerciante e um cliente que pediu a nota fiscal de um pente comprado para participar de um concurso que havia na cidade.
1960 – Entra no ar a Televisão Paranaense – Canal 12 (a primeira de Curitiba). Começa a funcionar, em seguida, a TV Paraná, Canal 6.

Tecnologia
Para se comunicar por telefone na década de 50 era preciso entrar em filas e às vezes, mesmo com o auxílio de uma telefonista, a ligação demorava um dia para ser processada. Foi no final dos anos 50 e início de 60 que Curitiba teve o seu primeiro canal de televisão.
Cinelândia
O termo foi cunhado entre as décadas de 30 e 50 para se referir à menor avenida do mundo, a Luiz Xavier, que concentrava as principais salas de exibição da cidade (como Cine Ritz, Ópera, Palácio e Odeon). Era o local para onde as pessoas iam para ver e serem vistas.
Quando visitar
A exposição Curitiba Anos 50 fica aberta até novembro de 2013, das 9 às 12 horas e das 13 às 18 horas de segunda a sexta-feira. Sábados, domingos e feriados funciona das 9 às 15 horas. Entrada franca. Rua Claudino dos Santos 79, São Francisco, no Memorial de Curitiba.

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