Mundo “acaba” hoje


RODOLFO STANCKI

Fim do calendário maia e suposta aproximação de planeta motivam a crença de que hoje é o dia do Juízo Final


Ilustração: Felipe Lima /
                                                                                               Ilustração: Felipe Lima

Esta pode ser a última edição da Gazeta do Povo que você vai ler. Segundo o calendário maia e outras teorias apocalípticas, o mundo deve acabar hoje. Embora a previsão soe como uma brincadeira, muita gente realmente acredita que deixaremos de existir até o fim do dia. A ponto de a Nasa, agência espacial dos EUA, ter criado um site dedicado à desmentir o fato.
“O mundo não vai acabar. Nosso planeta está indo bem nos últimos 4 bilhões de anos e os cientistas não reconhecem nenhuma ameaça associada a 2012”, publicou a agência depois de receber uma enxurrada de e-mails questionando se o fim iria ocorrer neste ano.


A ideia de que o mundo acabaria hoje vem especialmente do fim da contagem do calendário maia, que encerra um ciclo em 21 de dezembro. “Mas assim como o seu calendário de cozinha, outra contagem começa”, esclarece com ironia o site da Nasa.
Em outra previsão feita por ufólogos, e ainda mais bizarra, em que um suposto planeta chamado Nibiru – descobertos por Sumerianos há cerca de 4 mil anos, mas sem nenhuma confirmação científica – estaria vindo em direção à Terra. Na previsão inicial, o astro deveria se chocar com nosso planeta em maio de 2003. Como nada aconteceu, os entusiastas da tese na internet alteraram a data para hoje.
Apocalipse
Um levantamento do instituto Ipsos / Reuters, realizado em maio deste ano, mostra que 14% da população mundial acredita que o mundo vai acabar. “Esse número revela como existem pessoas dispostas a crer em algo maior”, diz Karla Gobo, socióloga do Centro Universitário Uninter. Ela afirma que a crença do apocalipse é mais frequente em pessoas com menor escolaridade e renda, além de predispostas a aceitar o misticismo.
“Muita gente também acredita no fim do mundo por estarem desconfortáveis com suas rotinas. É a expectativa de uma vida melhor”, diz Cecília Pilla, historiadora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
Se o juízo final não ocorrer hoje [e é improvável que ocorra], os apocalíticos já preveem duas outras datas para o fim. A primeira pode ser em 2029, quando um asteroide chamado Apophis deve passar próximo da Terra. Uma colisão já foi descartada pela Nasa, que acompanha a movimentação do astro. A outra previsão é que o final dos tempos ocorra em 2060, segundo interpretações literais da Bíblia feita pelo físico britânico Isaac Newton. Independentemente de quando for, vamos estar preparados para sobreviver.

Previsões

Confira outros “fins do mundo” que não deram certo nos últimos 200 anos. A virada do milênio concentrou os temores:
1806 – A galinha profeta de Leeds
No início do século 19, uma galinha botou diversos ovos com a mensagem “Cristo está vindo” em Leeds, na Inglaterra. O suposto milagre foi entendido pelos moradores da região como o apocalipse. O caso não passava de uma farsa em que os ovos eram pintados.
1843 – Os milenaristas

No Massachusetts, o pastor William Miller previu, após estudar minuciosamente a Bíblia, que Jesus Cristo voltaria. O retorno do salvador seria seguido pelo Juízo Final – marcado para 1843. O religioso morreu em seis anos depois sem ver o mundo acabar.

1910 – Cauda do cometa Halley
Em 1881, astrônomos identificaram um gás mortal na cauda do cometa Halley – que passaria pela Terra em 1910. Os cientistas alertaram que não haveria perigo, mas mesmo assim o medo não desapareceu. Em Oklahoma, nos EUA, religiosos extremistas tentaram sacrificar uma virgem, mas foram impedidos pela polícia.
1982 – Previsão de Pat Robertson
Em 1980, o evangelista Pat Robertson disse em seu programa de televisão que o mundo acabaria em 1982. O alarme falso rendeu ao pregador midiático o prêmio Ig Nobel no ano passado, dado às descobertas furadas ou engraçadas da ciência.
1997 – Culto Heaven’s Gate
Após a passagem do cometa Hale-Bopp, em 1997, uma seita ufológica de San Diego, nos EUA, previu que o mundo como conhecemos iria acabar. A saída para escapar do processo de “reciclagem” do planeta, seria um suicídio coletivo, realizado em 26 de março do mesmo ano por 39 pessoas.
1999 – Previsão de Nostradamus
O profeta Michel de Nostradame intrigou pessoas por 400 anos com descrições do futuro. Na sua versão do fim do mundo, o céu iria cair com reino de terror sobre a terra em uma data interpretada por apocalípticos como agosto de 1999. Evidentemente, nada ocorreu na época.
2000 – Bug do milênio
Um defeito nos computadores notado no início dos anos 1970 deu margem para que as pessoas imaginassem que o fim do mundo seria em 1º de janeiro de 2000. Segundo as previsões, depois da data os computadores não distinguiriam os anos 1900 dos anos 2000. As apostas previam falha no fornecimento de energia e até um holocausto nuclear.
2012 – Arca da salvação
O ex-zelador Luís Pereira dos Santos reuniu cerca de 100 pessoas em Teresina, no Piauí, para esperar pelo fim do mundo neste ano. Em outubro, a polícia prendeu Santos em sua residência, junto com uma quantidade expressiva de veneno de rato. O caso está sob investigação.


Medo
Expectativa pelo fim provoca histeria na população
Na virada do milênio, as pessoas enlouqueceram com pregações religiosas sobre o apocalipse. Isso ocorreu durante a chegada do século 11 na Europa, como descreve o historiador George Duby, no livro O Ano Mil. O caso se repetiu em 2000, com as previsões de fim de mundo de Nostradamus e o bug do milênio.
O medo de que deixemos de existir é quase tão antigo quanto a própria humanidade. Hoje não é a primeira e nem será a última vez que passamos por uma data-limite para o fim dos tempos. Algumas dessas previsões têm consequências mais graves do que as outras. A seita norte-americana Heaven’s Gate provocou o suicídio coletivo de 39 pessoas em 1997, graças à expectativa de que o apocalipse ocorreria a qualquer momento. Este ano, um profeta brasileiro foi preso por tirar proveito de pessoas usando ideias semelhantes em Teresina, no Piauí.
Resposta
O fim do mundo parece uma resposta imediata e simples para os problemas das pessoas. Por isso tem tanta aceitação, diz Maria Cecília Pilla, historiadora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “As pessoas imaginam um ciclo de existência, cujo final nunca se concretiza, mas sempre é aguardado.”
Cinema
Ficção científica usa o apocalipse para divertir o público
O filme 2012 (2010), do cineasta Roland Emmerich — que já havia dirigido O Dia Depois do Amanhã —, foi considerado um fiasco pela crítica — além de ser apontado como o maior desserviço de Hollywood à ciência. No entanto, a produção que reuniu as teorias apocalípticas maias para mostrar como seria o Juízo Final agradou ao público. Ao todo, foram arrecadados cerca de US$ 769 milhões em bilheteria nos cinemas do mundo.

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