O político Jesus - José Pio Martins

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

Acabo de retornar de uma viagem de dez dias a Israel. Embora a missão tenha sido visitar universidades e tratar de educação e pesquisa científica, procurei observar o país sob a ótica da economia. Eu já havia feito estudos para tentar entender a história e o desempenho de Israel no campo da ciência e da inovação tecnológica, pois não queria chegar lá como um ignorante em relação a esses temas.
Embora a viagem tenha sido de muito trabalho, foi possível um fim de semana turístico por Jerusalém, que é uma cidade única no mundo. Ali, há um rei que paira sobre tudo e todos: Jesus Cristo. Se seus algozes pensavam em tirá-lo do caminho e relegá-lo ao esquecimento, matando-o por crucificação, eles fracassaram rotundamente. Acabaram criando a figura de maior influência na história da humanidade.
Quem reconheceu a importância de Jesus com uma citação bem elaborada foi Napoleão Bonaparte. “Alexandre, César, Carlos Magno e eu fundamos impérios; mas em que baseamos nossas criações geniais? Nas armas e na força. Jesus, aquele pregador indigente de Nazaré, fundou seu império baseado apenas no amor e até hoje milhões de pessoas morreriam por ele.” Foi com essas palavras que Napoleão reconheceu a enorme influência do “homem”.
A pregação de Jesus tinha grande conteúdo político e tinha consequências econômicas importantes. Sua primeira tese era a da dignidade do indivíduo, que deveria ser colocado no topo do mundo e tratado – falamos de todos os indivíduos – com igualdade de direitos. Com isso, ele impingia uma derrota à escravidão que vigorava na época. Se todos eram iguais, nenhum homem podia escravizar outro e colocá-lo a seu serviço.
A segunda tese era de que todos deveriam ser livres para escolher seu trabalho e ter o direito de apropriar-se dos frutos de seu esforço. Isso significava uma revolução nas relações trabalhistas e no destino do produto derivado. A única maneira de um homem ser dono do resultado de seu esforço e seu trabalho é pelo direito de propriedade, pelo qual ele pode acumular os ganhos que não gastar em consumo.
No Império Romano, o escravo não era estabelecido por critérios de raça, mas pela negação do direito de propriedade. Nada podendo possuir, a um homem só restava trabalhar pelo alimento e pelo abrigo, nada mais. A tese de Jesus, se aplicada por Roma, desmontaria todo o sistema social e econômico vigente. Como ele pregava uma terceira tese, a de que a vida humana deveria ser tratada como um valor superior, necessário à dignidade real na Terra, o conjunto de sua pregação começou a assombrar os poderosos.
Ao pregar a dignidade individual, o direito de ser dono dos frutos do próprio trabalho, a liberdade de escolha e o direito à vida, Jesus criava um problema para a manutenção da desigualdade social. Os escravos eram mantidos em situação de subsistência, com baixo padrão de consumo e abandonados para morrer quando ficavam doentes. Uma vez livres, o trabalho teria de ser remunerado, acabando com a moleza dos senhores que viviam à custa de seus servos.
Pois lá está, em Jerusalém, o lugar onde Jesus foi crucificado, a pedra em que foi banhado e o túmulo onde foi sepultado. Em nome dele e usando suas teses, Saulo de Tarso, transformado em Paulo, construiu a igreja cristã e interferiu decisivamente na história política e econômica da humanidade. Jerusalém é uma cidade santa das três religiões monoteístas – o judaísmo, o cristianismo e o islamismo – e de lá a doutrina de Jesus vive e influencia bilhões de seres na Terra.


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